Um novo estudo da Universidade Tecnológica de Nanyang (NTU), em Singapura, trouxe à tona uma projeção alarmante: o nível médio global do mar pode subir entre 0,5 e 1,9 metros até o ano de 2100, caso as emissões de gases de efeito estufa sigam em alta. A estimativa supera significativamente a última projeção do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) da ONU, que previa uma elevação entre 0,6 e 1,0 metros no cenário mais pessimista.Esse cenário acende um alerta especialmente para as cidades costeiras brasileiras, que reúnem alta densidade populacional, infraestrutura próxima ao mar e ainda carecem de políticas públicas eficazes de adaptação às mudanças climáticas. Entre as áreas mais vulneráveis estão Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Fortaleza e São Luís.Projeções mais amplas e preocupantesDesenvolvido com uma abordagem inédita chamada "fusão", o estudo da NTU combina modelos climáticos tradicionais com avaliações de especialistas para estimar um intervalo muito provável (com 90% de confiança) de elevação do nível do mar. A nova metodologia busca corrigir limitações dos relatórios anteriores, que não previam os cenários mais extremos por falta de dados estatisticamente sólidos.Enquanto o IPCC trabalhava com uma faixa entre 0,6 e 1,0 metros para cenários de altas emissões, os cientistas da NTU projetam até 1,9 metros de aumento no nível médio do mar, caso não haja uma redução significativa das emissões globais de CO2.O Brasil e sua vulnerabilidade costeiraCom mais de 7 mil quilômetros de litoral, o Brasil é um dos países mais expostos aos efeitos da elevação do nível do mar. Levantamentos de instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) indicam que, caso o nível do mar suba um metro, diversos bairros litorâneos podem desaparecer ou tornar-se inabitáveis.Veja algumas cidades brasileiras em risco:Rio de Janeiro (RJ): regiões como a Ilha do Governador, Barra da Tijuca e áreas da Baixada Fluminense podem sofrer com inundações permanentes.Recife (PE): já enfrenta sérios problemas de erosão costeira e avanço do mar, sendo considerada uma das capitais mais vulneráveis.Salvador (BA): bairros da Cidade Baixa, como Ribeira e Comércio, estão na linha de frente da ameaça.Fortaleza (CE): poderá ver parte de seu litoral urbanizado comprometido, com prejuízos para moradias e turismo.São Luís (MA): com terrenos de baixa altitude e infraestrutura precária, corre alto risco de sofrer impactos diretos.Além dos prejuízos estruturais e ambientais, especialistas apontam para o risco de crises humanitárias, como deslocamentos populacionais em massa, perda de áreas residenciais e impactos econômicos severos.Decisões agora, impactos no futuroSegundo o estudo, o mundo ainda está em uma trajetória intermediária entre os cenários de baixas e altas emissões. Isso significa que as ações adotadas nas próximas décadas serão determinantes para conter ou agravar os efeitos da mudança climática. "A projeção mais elevada de 1,9 metros sublinha a necessidade de os decisores planearem as infraestruturas críticas em conformidade", afirma o Dr. Benjamin Grandey, autor principal do estudo e pesquisador da NTU.O professor Benjamin Horton, coautor e diretor do Observatório da Terra de Singapura, ressalta que a nova abordagem fornece uma ferramenta valiosa para gestores públicos e urbanistas, permitindo preparar as cidades para cenários extremos com maior precisão.No Brasil, especialistas defendem a inclusão da elevação do mar nos planos diretores das cidades, além da revisão das normas de construção e uso do solo nas áreas costeiras. Obras de contenção, realocação de comunidades vulneráveis, criação de zonas de proteção ambiental e sistemas de alerta são algumas das medidas que já deveriam estar em andamento.Sem planejamento e ação imediata, muitas das principais cidades litorâneas brasileiras poderão enfrentar consequências drásticas e irreversíveis até o final do século. A elevação do nível do mar não é mais uma hipótese distante — é uma realidade que exige resposta urgente.