Em junho, uma nova planta piloto do Brasil destinada à produção de petróleo sintético a partir de biogás e hidrogênio verde foi inaugurada no Paraná. O empreendimento contou com o apoio essencial do Laboratório de Materiais e Energias Renováveis (Labmater) do Setor Palotina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que contribuiu significativamente no desenvolvimento dos catalisadores empregados na planta piloto.Segundo Helton José Alves, fundador do Labmater da UFPR, um dos desafios principais foi produzir esses catalisadores em uma escala superior. “Nas condições de laboratório, sempre trabalhamos com uma quantidade muito pequena de catalisador e o desafio foi fornecê-lo em grande quantidade com as mesmas propriedades e desempenho observado no laboratório. Basicamente, estamos falando de um aumento de praticamente 100 vezes na escala de produção”, explica ele.O processo de produção do petróleo sintético a partir do biogás é inovador. De acordo com Helton, o biogás, composto majoritariamente por metano e CO2, é convertido em gás de síntese (mistura de hidrogênio e monóxido de carbono) utilizando um catalisador desenvolvido no Labmater e escalado no projeto para alimentar a planta piloto. “Neste projeto, um dos maiores diferenciais está na conversão do biogás (mistura gasosa composta majoritariamente por metano e CO2) em gás de síntese (mistura de hidrogênio e monóxido de carbono), utilizando um catalisador desenvolvido no Labmater e escalado no projeto para alimentar a planta piloto. Este processo ocorre sem a necessidade de utilização de água, o que representa um grande avanço em relação às tecnologias convencionais de produção de hidrogênio”, esclarece Helton.Para a planta piloto, foram desenvolvidos dois tipos de catalisadores: um para a produção de gás de síntese pelo processo de reforma a seco e o outro para a síntese de Fischer-Tropsch (FT). O processo FT é uma reação química que promove a síntese de hidrocarbonetos com tamanhos de cadeia semelhantes às frações de hidrocarbonetos tradicionalmente derivadas do petróleo.O objetivo da planta piloto é produzir 6 kg por dia de bio-syncrude – um óleo sintético a partir do qual se podem produzir hidrocarbonetos renováveis, como diesel verde e bioquerosene, também conhecido como combustível sustentável de aviação (SAF). Com 80-85% dos investimentos vindos da Alemanha e 15-20% da Fundação Araucária, o projeto é fruto da parceria entre o Departamento de Engenharia Química da UFPR e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), com apoio do Núcleo de Pesquisa em Hidrogênio da Itaipu Binacional.O Paraná se destaca como um dos estados brasileiros de maior potencial para a produção de biomassa, dada a sua elevada produção agrícola e agropecuária. O agronegócio do estado gera quantidades expressivas de biomassa residual, proporcionando uma fonte rica para a produção de biogás.Helton pontua que “muitos resíduos produzidos no estado precisam ser tratados e o biogás é uma solução para isso. Nos últimos anos, houve um aumento exponencial do número de plantas de produção de biogás e, consequentemente, do volume de biogás produzido no estado”. Segundo ele, “trata-se de uma rota bastante interessante para o aproveitamento de resíduos orgânicos, pensando na produção de hidrogênio e de combustíveis sintéticos como o SAF em larga escala”.Com essa iniciativa, a UFPR e seus parceiros estão na vanguarda da inovação sustentável, contribuindo significativamente para a transição energética e a valorização dos resíduos orgânicos.Fotos: Acervo UFPR