O Biomassa BR traz uma entrevista exclusiva com a Coordenação do Projeto Siderurgia Sustentável

Image

Entrevistada: Josana de Oliveira Lima Esser, Coordenadora de Mudança do Clima na Secretaria de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente.

Biomassa BR: Nos fale um pouco sobre o projeto siderurgia sustentável?
RESPOSTA:
O Projeto Siderurgia Sustentável busca o desenvolvimento de uma cadeia de produção siderúrgica sustentável e de baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE). Para isso, o Projeto incentiva o aumento da eficiência dos processos de conversão de biomassa renovável em carvão e trata de construir um ambiente institucional e normativo favorável ao uso de carvão vegetal sustentável pelas indústrias de ferro-gusa, aço e ferroligas.

O Projeto Siderurgia Sustentável foi elaborado a partir da demanda do setor siderúrgico a carvão vegetal e contou com subsídios de diversas instituições dos setores público e privado.

O Projeto é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A execução do Projeto conta, ainda, com a participação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), do Governo de Minas Gerais.

Aprovado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) em janeiro de 2014, foi assinado pelo PNUD, MMA e Agência de Cooperação Brasileira (ABC) em junho de 2015, tendo sido formalmente iniciado no primeiro trimestre de 2016.

Biomassa BR: Qual o principal objetivo do projeto?
RESPOSTA:
Por meio da construção de capacidades humanas e institucionais, o Projeto Siderurgia Sustentável busca não apenas reduzir as emissões de gases de efeito estufa na produção de ferro-gusa, aço e ferroligas, mas também tornar o setor mais competitivo no contexto da economia de baixo carbono.

Assim, entre os resultados esperados para o Projeto, destacam-se:
(i) a criação e implementação de um arcabouço institucional e normativo favorável à produção de carvão vegetal sustentável e de melhor qualidade para as indústrias de ferro gusa, aço e ferroligas;
(ii) o fortalecimento da base tecnológica e da capacidade humana por meio da assistência técnica e treinamento em produção sustentável e em gestão de empreendimentos; e
(iii) a criação de um mecanismo de apoio a novos investimentos na produção de carvão vegetal, baseado no monitoramento de desempenho (pagamento por resultados).

Biomassa BR: Quais os números do consumo de energia na siderurgia em MG, e qual a participação do carvão vegetal para atender esta demanda?
RESPOSTA:
Segundo levantamento realizado recentemente pelo Projeto Siderurgia Sustentável, a partir de dados do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer) e da Associação Mineira de Silvicultura (AMS), entre 2005 e 2016, a indústria siderúrgica brasileira produziu, em média, 32,2 milhões de toneladas anuais de ferro-gusa. Desse total, 8,6 milhões foram obtidos a partir do carvão vegetal, o que representa um consumo médio anual de 6,4 milhões de toneladas do insumo.

Quanto ao consumo específico em toneladas de carvão vegetal por tonelada de gusa produzido, a média nacional situa-se em torno de 0,750 toneladas de carvão vegetal por tonelada de ferro-gusa. Em Minas Gerais essa média de consumo é maior, de cerda de 0,771 tCV/t gusa, isso em função do setor de ferroligas, que consome em média 1,3 tCV/t produto (mix de ferroligas).

Biomassa BR: Fale um pouco sobre os principais resultados e impactos do uso de carvão vegetal na Siderurgia ?
RESPOSTA:
São diversas as vantagens do uso do carvão vegetal, produzido de forma ambiental, social e economicamente sustentável, na siderurgia. Em primeiro lugar, o uso do carvão vegetal de origem renovável como termorredutor (fonte de energia térmica e agente redutor do minério de ferro), em substituição ao carvão mineral fóssil, é uma alternativa para diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, como o Brasil é o único país que ainda mantém uma significativa produção siderúrgica que utiliza o carvão vegetal, o setor pode explorar o nicho de mercado que busca produtos verdes – que causam menos impacto ao meio ambiente.

Outra vantagem da siderurgia a carvão vegetal é seu potencial para gerar empregos no interior dos estados brasileiros, onde estão as florestas plantadas e as unidades de produção de carvão vegetal. Aliás, a produção de carvão vegetal a partir de florestas plantadas deve reduzir a pressão sobre florestas nativas ao promover o uso de matérias-primas cultivada legalmente, com espécies selecionadas pela produtividade e uso eficiente da água, e também com a aplicação de técnicas de planejamento ambiental e de manejo adequado para a silvicultura.

A legalização e a profissionalização da atividade de produção de carvão vegetal, que tem sido apoiada por políticas públicas tanto no nível nacional como no estado de Minas Gerais, gera melhores condições de trabalho no campo, inclusive com a inserção da mulher na atividade produtiva e a diminuição do impacto ambiental.

Por fim, o incentivo a florestas energéticas sustentáveis não apenas pode diminuir o uso de combustíveis fósseis pelo setor siderúrgico, como também tem o potencial de agregar à matriz produtiva brasileira áreas degradadas que não são aptas à produção de alimentos.




Gostou do Conteúdo, Cadastre-se já e receba todas as notícias de BiomassaBR no seu email cadastrado

Biomassa BR: Com a retomada do crescimento no Brasil, você acredita que setores importantes como o da Siderurgia podem ter problemas de fornecimento de energia?
RESPOSTA:
Essa é uma questão que precisa ser melhor estudada. Por um lado, é claro que o principal insumo para produção do carvão vegetal – a madeira – tem um tempo de maturidade considerável: para crescimento do eucalipto, por exemplo, são necessários sete anos. No entanto, a crise no setor siderúrgico mundial gerou uma queda na produção de ferro-gusa, o principal consumidor de carvão vegetal no Brasil, o que significa que há um certo “estoque” de madeira em campo. De qualquer forma, o Projeto Siderurgia Sustentável está analisando a questão e trabalhando em conjunto com órgãos públicos e privados para apoiar o desenvolvimento do setor no médio e no longo prazo.


Biomassa BR: Como os compromissos assumidos pelo Brasil na COP21 podem ajudar no processo de inclusão de fontes renováveis na matriz energética no Brasil?
RESPOSTA:
O Brasil se comprometeu a promover a redução das suas emissões de gases de efeito estufa para o ano de 2025 em 37%, em relação aos níveis de 2005. Além disso, indicou para 2030 a redução de 43% em relação ao total de emissões de 2005. A implementação deste Compromisso (chamado Contribuição Nacionalmente Determinada – NDC, na sigla do original em inglês) abre uma nova agenda de oportunidades em negócios sustentáveis no país, que pode ser utilizada como catalizador para a retomada do desenvolvimento econômico nacional de forma competitiva e sustentável.
Esse novo compromisso reforça amplamente a consolidação de uma matriz energética limpa e eficiente, e algumas ações foram indicadas como o caminho para o alcance da NDC brasileira. Por exemplo, para alcançar uma participação de 45% de energias renováveis na matriz energética do País até 2030, devemos aumentar a participação de biocombustíveis na matriz energética brasileira para aproximadamente 18% até 2030; precisaremos restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, para múltiplos usos (inclusive produção de energia); expandir o uso de fontes renováveis, além da energia hídrica, na matriz de energia para uma participação de 28% a 33% até 2030; e, por fim, temos que alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030.

Vale mencionar que o está aberto, até 15 de março de 2017, o prazo para comentários de todo e qualquer interessado ao “Documento-base para elaboração de uma estratégia nacional de implementação e financiamento da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira”. Informações sobre como contribuir para a discussão estão disponíveis no site do MMA: http://www.mma.gov.br/clima/ndc-do-brasil . E o processo de construção da Estratégia de Implementação da NDC se dará ao longo de todo o primeiro semestre de 2017, com reuniões presenciais promovidas pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.


Biomassa BR: Nos fale um pouco sobre os programas do UNDP para o Brasil na área de geração de energia?
RESPOSTA:
A Secretaria de Mudança do Clima e Florestas, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), é responsável pela formulação e proposição de políticas e normas e a definição de estratégias relacionadas aos rebatimentos ambientais associados à matriz energética brasileira. Além do Projeto Siderurgia Sustentável, a Secretaria executa com o PNUD o Projeto 3E - Eficiência Energética em Edificações, que tem como objetivo influenciar e desenvolver o mercado de eficiência energética em edificações comerciais e públicas, visando contribuir com a economia de até 106,7 TWh de eletricidade nos próximos 20 anos e com a redução de emissões de gases de efeito estufa em até 3 milhões de toneladas de dióxido de carbono (tCO2).



Biomassa BR: Quanto ao mecanismo que apoiará novos investimentos na produção de carvão vegetal, como funciona e quando será iniciado?
RESPOSTA:
Entre os resultados práticos do Projeto Siderurgia Sustentável está o lançamento de um mecanismo de apoio ao desenvolvimento, melhoria e demonstração de arranjos tecnológicos e processos inovadores de produção de carvão vegetal. Com um orçamento inicial de R$ 10 milhões, provenientes do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), o mecanismo apoiará iniciativas de produção sustentável de carvão vegetal, e de uso desse insumo na indústria siderúrgica, que efetivamente diminuam as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Para cada projeto selecionado, o mecanismo de apoio oferecerá um pagamento de 50% da subvenção concedida a título de apoio operacional para compra e instalação de equipamentos. A outra metade dos recursos somente será desembolsada mediante comprovação do atendimento aos resultados esperados de redução de emissão de gases de efeito estufa.

A primeira etapa de seleção de propostas foi lançada em setembro do ano passado com o objetivo de habilitar interessados em desenvolver, melhorar e adotar tecnologias sustentáveis de produção de carvão vegetal no estado de Minas Gerais. Como resultado, foram habilitadas 27 (vinte e sete) propostas de 38 (trinta e oito) instituições, entre empresas, centros de pesquisa, organizações da sociedade civil e associações do setor siderúrgico a carvão vegetal.

Atualmente, o Projeto Siderurgia Sustentável prepara o edital de seleção de projetos, que deve ser lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) até o início de abril deste ano.


Oferecimento:

Site EXPOBIOMASSA: http://www.expobiomassa.com/
Site CIBIO 2017: http://www.congressobiomassa.com/

Compartilhe esta noticia: