Opinião

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Biomassa da cana atinge 10 mil MW, mas continuidade da expansão preocupa setor sucroenergético

Setor sucroenergético chegou a acrescentar 1.750 MW em 2010. Em 2015, a previsão é de apenas 633 MW

Terceira fonte mais importante da matriz de energia elétrica do Brasil, em termos de potência instalada, a biomassa da cana de açúcar acaba de atingir o marco de 10 mil MW em capacidade instalada efetivamente fiscalizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Atrás apenas das fontes hídrica e gás natural, a biomassa da cana chega a uma capacidade instalada que representa 7% da matriz de energia elétrica brasileira, sendo quase 2,5 vezes superior à capacidade instalada pelas termelétricas à base de óleo combustível e de diesel e a aproximadamente três vezes à do carvão mineral.

Quando consideramos as outras biomassas, como a geração com base em madeira, de outras agroindústrias e resíduos sólidos urbanos e animais, a fonte biomassa tem 12.500 MW de potência instalada fiscalizada pela ANEEL, mais do que uma usina Belo Monte em biomassa e quase superando em potência instalada a geração a gás natural.

Embora o setor sucroenergético tenha atingido 10 mil MW em capacidade instalada, a continuidade da expansão da bioeletricidade da cana ainda é um ponto de atenção para essa fonte renovável e complementar à geração hídrica.

Em 2010, de acordo com a ANEEL, a fonte biomassa chegou a instalar 1.750 MW, mas em 2015 a previsão é que a fonte seja responsável por apenas 633 MW, ou seja, 36% do que foi instalado em 2010. Quando se observa a média de acréscimo de potência para os anos de 2016 a 2018, a situação é mais cautelosa: a média anual de acréscimo da bioeletricidade é estimada em somente 256 MW.

Considerando que o próximo leilão A-3 contratará energia de novos empreendimentos para entrega a partir de 2018, esta pode ser a última chance de tentar se elevar um pouco essa média de acréscimo de potência no triênio 2016 a 2018, salvo se houver uma diretriz específica de estímulo à bioeletricidade no ambiente regulado ou que o mercado livre seja revitalizado e passe a ser uma significativa porta de entrada para novos investimentos, diminuindo a dependência do ambiente regulado.

Deve-se manter o movimento que estamos observando ultimamente de melhora de preço nos leilões regulados (como se espera ocorra no próximo A-3, nos A-5 e A-3 de 2016, de 2017, de 2018,...) e das condições institucionais no setor elétrico, idealmente inserido numa política de longo prazo para a bioeletricidade.

Definir o papel de longo prazo da bioeletricidade [e também do etanol] na matriz energética do Brasil é condição necessária para o aproveitamento do potencial energético do setor sucroenergético, evitando-se a descontinuidade que estamos verificando no acréscimo anual de capacidade instalada pela fonte biomassa na matriz de energia elétrica.

Para John Nash, prêmio Nobel de Economia em 1994, falecido no mês de maio, os melhores resultados acontecem quando todos em um grupo fazem o melhor para si e também pelo grupo. Estabelecer uma agenda positiva clara, estável e estimulante é importante não somente para a bioeletricidade, mas para a competitividade do etanol, para as fontes renováveis em geral, para o setor elétrico e para o setor de combustíveis – enfim, uma agenda sinérgica e que contribuirá para garantir segurança e sustentabilidade à matriz energética brasileira.

Zilmar José de Souza

Gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e professor da Faculdade Getúlio Vargas (FGV/SP)

*Artigo publicado no CanalEnergia em 26/05/2015.

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