Cana-de-açucar

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Canavial de incertezas

Não é por acaso que a Usina de Açúcar Santa Terezinha (Usaçúcar) mantém a confortável posição de líder do setor de açúcar e álcool no sul do país. Seu faturamento, de pouco mais de R$ 2 bilhões em 2013, é 11 vezes superior à segunda colocada do ranking, a Sabarálcool. Mesmo assim, não se pode dizer que os anos têm sido bons para a Usaçúcar. Em 2013, por exemplo, a receita bruta da empresa teve uma variação negativa de 0,4% em relação ao ano anterior. Reflexos do atual momento do setor sucroalcooleiro, cujas companhias enfrentam perspectivas desanimadoras e um nível de endividamento cada vez maior - na média, a dívida do setor cresceu 19 vezes desde 2003.

Em 2007, impulsionado pelo crescimento das vendas dos carros flex, o setor vivia o auge da expansão no país. Vários grupos de grande porte entraram na onda - entre eles, a Odebrecht Agroindustrial, que investiu em nove usinas produtoras de etanol e açúcar. No entanto, a partir de 2008, a crise financeira internacional, a retirada de estímulos fiscais ao álcool e a política do governo de congelamento dos preços da gasolina fez com que o álcool perdesse a competitividade.

Como resultado, o retorno dos investimentos deixou de ser atraente e, hoje, o setor vive uma crise de endividamento. Em todo o Brasil, mais de 60 unidades de produção já foram fechadas e outras 60 estão em recuperação judicial, segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). Entre as que restaram, a maioria respira por aparelhos - somente nos últimos dois anos, o setor perdeu 60 mil empregos. "A política governamental destruiu a cadeia de valor do setor de açúcar e álcool", reclama Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica. "Neste momento, o setor está numa situação de sobrevivência."


Novidades promissoras

A saída para reverter esse cenário não é inatingível, mas exige boa vontade e coerência dos agentes públicos, segundo Pádua. Antes de tudo, é preciso definir o papel do etanol na matriz energética brasileira e estabelecer uma política de preços mais clara para a gasolina. "O mercado precisa de previsibilidade. Ninguém vai investir sabendo que a política para o setor pode mudar a qualquer momento", diz Pádua. Para ele, também é preciso levar em conta os benefícios do etanol, tanto no aspecto ambiental quanto no da saúde, por ser menos poluente. "Precisamos de uma política pública que dê preferência ao etanol."

Diante da adversidade, algumas companhias - como a Usaçúcar - estão apostando na inovação para retomar o crescimento. Paulo Meneguetti, diretor financeiro e de suprimentos da usina paranaense, revela que a grande esperança está no etanol feito a partir de celulose. A Usaçúcar, diz ele, é acionista da CTC S/A, empresa focada no desenvolvimento de tecnologias canavieiras. "Já iniciamos a produção do etanol de biomassa em escala semi-industrial", diz Meneguetti. Já na área agrícola, a esperança está no desenvolvimento de novas variedades de cana, mais resistentes a pragas e doenças e com maior teor de sacarose.

Um dos setores que mais têm a ganhar com a evolução das tecnologias canavieiras é o de energia elétrica. Não é por menos: a cada nova safra, são desperdiçadas aproximadamente 300 milhões de toneladas de bagaço de cana-de-açúcar. Se fosse reaproveitado em usinas de biomassa, esse material poderia gerar 30 milhões de MWh - quase um terço da produção anual de Itaipu. "Todas as usinas que processam cana são autossuficientes em energia elétrica durante a safra", revela Meneguetti. Na Usaçúcar, as dez plantas industriais são autossuficientes e três delas têm contrato de venda de excedentes de energia.

O uso do bagaço de cana na produção de energia traz um benefício extra: a possibilidade de gerar energia no período das secas, quando os reservatórios das hidrelétricas atingem os níveis mais baixos. Entretanto, as políticas para o setor ainda são pouco convincentes para os investidores do setor. Uma ponta de esperança havia surgido em 2004, com o lançamento de um edital do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). O programa prometia fomentar investimentos pesados em equipamentos por parte das usinas, especialmente em caldeiras, moendas, geradores de energia, transformadores e turbinas. Mas emperrou em detalhes técnicos. Os empresários queriam um alongamento de dois anos no prazo para o início da entrega da energia - até porque não havia tempo hábil para a fabricação dos equipamentos antes disso. Com o veto do Ministério de Minas e Energia, muitos dos projetos foram cancelados. "A Usaçúcar havia aprovado quatro projetos em quatro unidades industriais. Com aquela negativa, contratamos apenas um deles", afirma Meneguetti.

Agora, o setor aguarda uma nova sinalização do governo para, quem sabe, voltar a investir. "Precisamos de uma política específica para produção de energia a partir de biomassa", destaca Pádua, da Unica. Meneguetti concorda: "O potencial de produção de energia a partir de bagaço de cana no Brasil é muito grande. Só falta o setor ser visto como uma opção".


Robson Pandolfi
Fonte: Revista Amanhã

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